23 janeiro 2009

A cava das vinhas!



A cava da vinha era dos trabalhos mais cansativos e árduos que se faziam noutros tempos e aos  quais muitos trabalhadores do campo se sujeitavam de modo a garantirem um rendimento continuado e estável na subsistência económica da família. E depois, como a modernização agrícola de charruas e tractores ainda estava bem distante deste tipo de actividade exercido nesses longínquos anos, não existiam de facto outras alternativas a esta forma de tratar as terras de vinhedo!

 Viviam-se tempos nos quais a exploração maciça de mão obra era utilizada em tudo, ou quase tudo, que fossem trabalhos agrícolas e a vinha, obviamente, não fugia à regra ! Ranchos de homens e mulheres vindos de fora ou formados por pessoas do Pombalinho e arredores, por regra, sempre dirigidos pelo respectivo feitor ou homem de seleccionada confiança do patrão, povoavam desde o nascer até ao por do sol os vãos das vinhas! As  enxadas devidamente balançadas pela força de mãos firmes e experientes de homems  rasgavam a terra de uma forma lenta e compassada.

Havia de entre os patrões quem recorresse estrategicamente a processos para vencer o cansaço provocado pelas características rudes deste trabalho. E uma delas era o recurso ao consumo de vinho, por parte dos trabalhadores mesmo  durante as horas de laboração! O alcool ingerido, quase sempre sem regra, funcionava como estimulante e inibia o forte cansaço que se apoderava de todos, com particular incidência nos mais fracos em robustez fisica, e ai destes que se atrasasassem em relação aos demais, pois o risco de não serem contratados na próxima "praça" , era mesmo muito grande!

 Aliás, o vinho chegou a fazer parte da jorna e os patrões utilizavam o de menor qualidade nesses pagamentos semanais aos trabalhadores! Eram realmente tempos muito difíceis! Hoje o mundo é bastante diferente nas relações laborais, no entanto, lembrar estes tempos dificeis, ainda faz todo o sentido, quem sabe, talvez, para compreendermos melhor o percurso que nos levou aos tempos presentes!


As fotografias publicadas, ilustram, melhor do que muitas palavras, o modo como eram exercidas as cavas das vinhas por terras do Pombalinho! Foram registadas por Guilherme Afonso no ano de 1964 na propriedade do Aviz, pertença de António de Menezes e os textos em “italic” postados sob a forma de legendas, retirados da carta que o nosso Amigo me escreveu, fruto de uma passeata que fez com a sua máquina fotográfica a tiracolo, nesse mês de Abril!






... Mas não deixo de aproveitar o envio das mesmas para algumas observações sobre o tema. A primeira é de que a maior parte do rancho não é do Pombalinho. Do Pombalinho fazem parte do rancho apenas três pessoas, salvo erro: o meu pai, o Eleutério e o Germano Saúde. Numa das fotos está o meu pai (José Afonso), à esquerda, com a enxada ao alto, e outro, à direita, que não me lembro quem seja.







... Noutra estão o Eleutério e o Germano Saúde, que não estão reconhecíveis, mas eu sei que são eles.






... A segunda observação é sobre a constituição do rancho. Lá mais para trás não vinham ranchos de fora (ratinhos ou gaibéus) para a cava das vinhas nem tão pouco para a vindima. Vinham para a colheita da azeitona. E em anos de boa colheita vinham vários, e grandes. Cheguei a trabalhar integrado num deles.







... A terceira e última observação é para estabelecer uma relação entre a vinda de ranchos de fora para cultivar as vinhas, nesse ano de 1964, e o número de trabalhadores (do Pombalinho, claro) na "praça" nesse mesmo ano, conforme se pode observar numa fotografia que já lhe enviei (e que o Manuel Gomes meteu no blog do Pombalinho ) e noutra que lhe envio agora, tiradas na mesma altura. Lá mais para trás, também, o pessoal era muito, muito mais. A "praça" ficava cheia. Por isso, antes havia, geralmente, pessoal no Pombalinho que chegava para todas as tarefas ligadas à agricultura, menos para a colheita da azeitona. Em 1964, como se vê, e não sei desde quantos anos antes, já não.


Colaboração – Guilherme Afonso




6 comentários:

Anónimo disse...

Este é um dos blogs do vizinho que mais aprecio, pois conta-nos aqui um pouco da história do Pombalinho.
Deixei-lhe, no meu Açor, um miminho como reconhecimento pelo bem que me faz, ao dar-me a conhecer todos estes aspectos da sua terra natal, que desconhecia.

MGomes disse...

Agradeço-lhe a visita, Lourdes Martinho, mas também pela simpatia que manifestou a este espaço, ao atribuir-nos um reconhecimento de mérito!

Beijinho!

templario disse...

Mais uma vez visitei o seu Pombalinho e, como sempre, com enorme gosto.

Um Abraço.

MGomes disse...

Muito obrigado pela sua visita, caro Fernando Marques.

Um Abraço!

Luis Henriques disse...

Se há fotografias que iram ficar para a historia eternamente,estas serão mais umas ,fiquei a saber mais uma pouco sobre os homens e mulheres que naquele tempo trabalhavam na terra para ganhar o seu sustento.
Como gosto de ver fotografias antigas ,onde a historia está nela contida ,fico encantado de visitar este blog que é extraordinário,já que ,os meus pais também são deste tempo e contavam a nós ,filhos, o que era duro trabalhar no campo,mas com estas imagens e textos, temos outra noção e confirmo as suas palavras.
um abraço a todos que elaboram este blog de modo a dar a conheces principalmente aos jovens,que é o meu caso ( 35 anos) como foi o Ribatejo há muitos anos

MGomes disse...

Caro Luís Henriques!

Agradeço-lhe a simpatia desta sua visita.Em nome de todos que tornam possível este trabalho, o meu obrigado pelas palavras de reconhecimento que por bem quis deixar no seu comentário!

Um Abraço!