23 março 2010

Cartas de Maputo III !



Maputo, 21 de Fevereiro de 2006


Caro Amigo Manuel Gomes

"Que se encontre bem juntamente com todos os que lhe são queridos, são os meus votos sempre presentes.

Continuando a anular as distâncias, cá estou a dar continuidade ao nosso amistoso e reconfortante diálogo. A mim, pelo menos, já a entrar no último quarto de século de uma vida sem grandes solavancos, reconforta imenso ter um conterrâneo bastante mais jovem que tão cordialmente se dispõe a este diálogo e que comigo se abre revelando o percurso da sua formação como Homem nestes nossos conturbados tempos. Acredite, Amigo, que me senti privilegiado e me emocionei muito ao ler e reler a sua descrição da maneira como viveu esses tempos áureos do pós 25 de Abril em Portugal e as reflexões que sobre os mesmos foi fazendo....



... Enviei-lhe aqui há tempo uma fotografia tirada numa das alvercas em que muitas vezes tomámos banho e, a propósito, falei-lhe de algo que tinha escrito sobre os dias em que a rapaziada ia à inspecção para o serviço militar, tendo acabado por prometer enviar-lhe o artigo depois de burilado. Acabei, contudo, não apenas por burilá-lo, mas por refazê-lo, na tentativa de nele encaixar as imagens que o integram. É mais um texto das minhas memórias. Se o Manuel Gomes achar que dá para publicá-lo como está, óptimo; se isso não for viável, por qualquer motivo, mas se tiver alguma sugestão a fazer, ela será, como sempre, bem recebida
."


INSPECÇÃO PARA O SERVIÇO MILITAR


"À inspecção militar iam, em cada ano, os indivíduos do sexo masculino que nesse ano completavam vinte anos de idade. Em 1949, nascidos, por conseguinte, em 1929, éramos 19, o maior número até então registado no Pombalinho. Por ordem alfabética, aqui vão os nossos nomes:

Alberto Gomes, António Andrade Leal, António Costa, António Domingos, António Maria Duarte, Cipriano, Ezequiel Andrade Barreiros Mateiro, Francisco Bispo, Guilherme Afonso dos Santos, João Fataça, Joaquim Duarte, José Marcano, José Narciso, Manuel Cachado, Manuel Cardoso, Manuel Carvalho, Victor.

Falta o nome de um, porque, tendo nascido no Pombalinho, de lá saiu, com os pais, muito novo ainda. Juntou-se a nós no dia da inspecção, parece que vindo de São Vicente do Paul ou do sobral, mas não fixei o seu nome.
Não se juntaram a nós, no dia da inspecção, o Manuel Cachado e o Manuel Cardoso. O primeiro porque tinha ido para Lisboa aos 16 ou 17 anos e providenciou para ir à inspecção em Lisboa. O segundo porque tinha ido para Angola, com os pais, dois ou três anos antes, e por lá terá ido também à inspecção. Alguns já faleceram. Que eu saiba ... "
Para texto integral, aceda ao Perfume da Alma clicando AQUI



Nota do autor deste Blog - Como bem se pode constatar, a este texto jamais poderia ter acontecido uma espera de publicação tão longa, como a que acabou por acontecer! De facto, é difícil de imaginar como é que este brilhante testemunho do nosso Amigo Guilherme Afonso entrou injustamente no "arquivo morto" da minha memória! Mas..., aconteceu!!! De qualquer maneira, passou o tempo, mas o interesse histórico subjacente a esta inspecção militar de 1949 mantém-se completamente inalterável!
Com as minhas devidas desculpas ao autor de "Inspecção para o Serviço Militar" por este atraso involuntário, fica a redobrada satisfação por aqui no "Pombalinho" e no "Perfume da Alma" se fazer jus, no sentido de partilha com os visitantes destes espaços, a mais uma das brilhantes memórias de vida de Guilherme Afonso.






19 março 2010

Regedor substituto !







Alvará de nomeação de Gabriel Joaquim para ocupação das funções de regedor substituto da freguesia de Pombalinho, no ano de 1951.



"Em Portugal, entre 1836 e 1976, o regedor era um funcionário público que representava a administração central junto de cada freguesia.

Incumbia aos regedores: cumprir e fazer cumprir as ordens, deliberações e posturas municipais e os regulamentos de polícia, levantar autos de transgressão sempre que necessário, auxiliar as autoridades policiais e judiciais sempre que necessário, agir de modo a garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, auxiliar as autoridades sanitárias, garantir os regulamentos funerários, mobilizar a população em caso de incêndio e cumprir outras ordens ou instruções emanadas do presidente da câmara municipal.

A figura do regedor de freguesia foi extinta na sequência da introdução da Constituição da República Portuguesa de 1976. "

Texto - Wikipedia





13 março 2010

Barbearias !








Antigamente as barbearias ocupavam um lugar importante na vida particular das pessoas e no normal funcionamento dos centros populacionais! As novas tecnologias da Gillette e da Nacet ainda não tinham invadido os lares dos portugueses e os barbeiros, em paralelo com outras profisssões algumas delas hoje já quase extintas, integravam um grupo de actividades e serviços, imprescindíveis na vida social das populações. No entanto e ao contrário das outras, as barbearias eram consideradas também como lugares privilegiados de encontros, após as longas jornadas diárias de trabalho.







Os sábados eram os dias preferidos para se ir ao barbeiro! Formavam-se filas de espera para que chegasse a vez de ocupar a tradicional cadeira rotativa! E há volta de um simples corte de cabelo ou barba, falava-se muito e de muita coisa. O ritmo era lento e por isso excepcionalmente convidativo a trocas das mais variadas conversas entre os presentes, criando-se assim expontâneas “assembleias populares” que de outro modo e em circunstâncias idênticas era de todo impossível. E depois havia o elemento principal! O tempo! Esse cronómetro da nossa existência, ainda era “medido” de forma saudávelmente serena! A ansiedade de que os ponteiros do relógio saltitassem de minuto em minuto a um tempo inferior aos padronizados sessenta segundos, era coisa de tempos inimagináveis! E assim sendo, pela noite fora, o clima “tertúliano” surgia despreocupadamente!!!


No Pombalinho dos anos sessenta/setenta do século passado, existiram simultaneamente em actividade de funções, três barbeiros, o Carlos Cavaco, o Heliodoro Bacalhau e o Veríssimo Duarte. Todos eles tinham clientelas mais ou menos estereotipadas! Eram visíveis as suas diferenciações, que só por razões imprevistas é que aconteciam eventuais “trocas de cadeiras".





Veríssimo Duarte



Dos três, o Veríssimo podia-se considerar, talvez, o profissional mais tradicional. Não só pelos cortes que fazia, mas também pelo rigor como os executava. Um corte à “inglesa curta” era sinónimo de cabelo bem curtinho! Orelhas bem descobertas e pescoço à mostra, uma tigelada, como irónicamente se chamava! Mas mesmo assim era o mais solicitado, talvez para evitar precisamente que a clientela lá voltasse tão cedo! Pessoa afável e serena, era de um trato respeitável!








Trabalhou profissionalmente numa barbearia localizada na rua de Sto António, ali bem junto aquele que é hoje o "Mini Mercado Júlia" .








Naquela que viria a ser a sua última barbearia, ali no cruzamento da rua de Santo António com a 5 de Outubro e a Eugénio de Menezes, desempenhava frequentemente em simultaneidade, a função de enfermeiro. Especializou-se nos anos de 1937/1938, juntamente com o Dr Victor Semedo e era a ele que os pombalinhenses recorriam sempre que, por indicação clínica, eram medicamentados com injecções de aplicação intravenosa. A memória transporta-nos para aqueles gestos simples mas devidamente automatizados com que o Verissímo Duarte esterilizava, numa tina apropriada com água a ferver e aquecida por combustão do alcool etílico, as seringas e as respectivas agulhas!


Hoje, esse ambiente das barbearias quase já não existe! O tempo não nos perdoaria se tivéssemos que o gastar numa noite de serão, à espera que um qualquer barbeiro nos dissesse após uma longa espera: " é a tua vez, podes-te sentar !!!" 



Também AQUI poderá testemunhar outras barbearias, outros tempos....

Colaboração fotográfica de MªLuísa N Duarte/Bruno Cruz







10 março 2010

Retratos XVI !







Ezequiel Leal, Ana Leal e Mª Adelaide Leal, acompanhados por Maria dos Santos Vieira.




04 março 2010

EICS








Depois de concluído o nível escolar da então denominada Instrução Primária, houve um considerável número de Pombalinhenses que não querendo ficar apenas por aí se propuseram a frequentar o Ensino Secundário. Um dos estabelecimentos escolhidos para a continuação desses estudos foi a Escola Industrial e Comercial de Santarém. Sediada na zona histórica da cidade, na praça Visconde Serra do Pilar, foi uma inesquecível referência por quem ali passou alguns anos de uma formação escolar que para uns serviu de plataforma à entrada directa no mercado de trabalho e para outros como meio de continuação a voos escolares a níveis ainda mais ambiciosos.

Ali, durante os anos que durou o curso e até à sua conclusão, muitos amigos fizemos na Escola! Professores que nos marcaram especialmente na nossa vida escolar, ficaram exemplarmente eleitos no nosso imaginário! E até aqueles funcionários mais escrupulosos no cumprimento dos seus deveres, hoje são recordados com algum carinho e muita saudade.


Vem esta pequena introdução, neste espaço de memórias, a propósito de ... Um  




02 março 2010

Maria Luísa Narciso Duarte









"Maria Luísa Narciso Duarte nasceu a 2 de Março de 1932 na aldeia de Pombalinho, concelho de Santarém, no seio de uma família de quatro irmãos.
Desde cedo mostrou gosto pela escrita e pela poesia, contudo devido aos poucos recursos económicos dos seus pais, apenas pôde estudar até à 4ª classe. Trabalhou na mercearia da família até ao seu casamento, momento em que passou a trabalhar na actividade agrícola.
Durante toda a sua vida cultivou o gosto pela leitura, recitando poemas e histórias para amigos e em festas da comunidade. Teve sempre o sonho de escrever um livro para crianças, mas foi a partir de 25 de Abril de 1974 que, entusiasmada com o novo estado da Nação, se dedicou afincadamente à escrita.
Com um obra que aborda temáticas tão diferentes como a política, a Natureza, as crianças a Paz, a pobreza, o Ribatejo, entre muitas outras, Maria Luísa Duarte, expõe no que escreve os valores e os sentimentos que pautam a sua personalidade.

Participando em inúmeros programas de rádio e eventos festivos e de solidariedade social, o impacto das mensagens da sua poesia tem sido sentido por todos, pelo que compila város prémios em concursos de poesia e escrita popular. "




São hoje dois de Março...
Dia dos meus enganos...
As dezoito primaveras!
Passam aqui todos os anos.
Se eu as pudesse prender,
Nunca me tinham fugido...
Para gozar a imagem!

Daquele tempo vivido.




Do poema "Recordação dos meus 59 anos"

Texto e poema do livro "Pedaços da Minha Vida"

Colaboração fotográfica de MªLuísa N Duarte e Bruno Cruz