Antigamente as
barbearias ocupavam um lugar importante na vida particular das pessoas e no
normal funcionamento dos centros populacionais! As novas tecnologias da
Gillette e da Nacet ainda não tinham invadido os lares dos portugueses e os
barbeiros, em paralelo com outras profisssões algumas delas hoje já quase
extintas, integravam um grupo de actividades e serviços, imprescindíveis na
vida social das populações. No entanto e ao contrário das outras, as barbearias
eram consideradas também como lugares privilegiados de encontros, após as
longas jornadas diárias de trabalho.
Os sábados eram os dias
preferidos para se ir ao barbeiro! Formavam-se filas de espera para que
chegasse a vez de ocupar a tradicional cadeira rotativa! E há volta de um
simples corte de cabelo ou barba, falava-se muito e de muita coisa. O ritmo era
lento e por isso excepcionalmente convidativo a trocas das mais variadas
conversas entre os presentes, criando-se assim expontâneas “assembleias populares”
que de outro modo e em circunstâncias idênticas era de todo impossível. E
depois havia o elemento principal! O tempo! Esse cronómetro da nossa
existência, ainda era “medido”
de forma saudávelmente serena! A ansiedade de que os ponteiros do relógio
saltitassem de minuto em minuto a um tempo inferior aos padronizados sessenta
segundos, era coisa de tempos inimagináveis! E assim sendo, pela noite fora, o
clima “tertúliano”
surgia despreocupadamente!!!
No Pombalinho dos anos
sessenta/setenta do século passado, existiram simultaneamente em actividade de
funções, três barbeiros, o Carlos Cavaco, o Heliodoro Bacalhau e o Veríssimo
Duarte. Todos eles tinham clientelas mais ou menos estereotipadas! Eram
visíveis as suas diferenciações, que só por razões imprevistas é que aconteciam
eventuais “trocas
de cadeiras".
Veríssimo Duarte
Dos três, o Veríssimo
podia-se considerar, talvez, o profissional mais tradicional. Não só pelos
cortes que fazia, mas também pelo rigor como os executava. Um corte à “inglesa curta”
era sinónimo de cabelo bem curtinho! Orelhas bem descobertas e pescoço à
mostra, uma tigelada, como
irónicamente se chamava! Mas mesmo assim era o mais solicitado, talvez para
evitar precisamente que a clientela lá voltasse tão cedo! Pessoa afável e
serena, era de um trato respeitável!
Trabalhou profissionalmente numa barbearia localizada na rua de
Sto António, ali bem junto aquele que é hoje o "Mini Mercado Júlia" .
Naquela que viria a ser
a sua última barbearia, ali no cruzamento da rua de Santo António com a 5 de
Outubro e a Eugénio de Menezes, desempenhava frequentemente em simultaneidade,
a função de enfermeiro. Especializou-se nos anos de 1937/1938, juntamente com o
Dr Victor Semedo e era a ele que os pombalinhenses recorriam sempre que, por indicação
clínica, eram medicamentados com injecções de aplicação intravenosa. A memória
transporta-nos para aqueles gestos simples mas devidamente automatizados com
que o Verissímo Duarte esterilizava, numa tina apropriada com água a ferver e
aquecida por combustão do alcool etílico, as seringas e as respectivas agulhas!
Hoje, esse ambiente das
barbearias quase já não existe! O tempo não nos perdoaria se tivéssemos que o gastar numa noite de serão, à espera que um
qualquer barbeiro nos dissesse após uma longa espera: " é
a tua vez, podes-te sentar !!!"
Também AQUI poderá testemunhar outras
barbearias, outros tempos....
Colaboração fotográfica de MªLuísa N Duarte/Bruno Cruz
Colaboração fotográfica de MªLuísa N Duarte/Bruno Cruz
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