24 maio 2017

José da Costa Gaitas Júnior






A propósito da exposição de genealogia  que decorreu no Pombalinho, autoria desenvolvimento e muito trabalho do Bruno Cruz , vêm até mim recordações dum passado que queria recente mas que, pela inexorável lei da vida se irão começar a desvanecer ao sabor dos tempos. Para memòria futura estes pequenos apontamentos poderão reviver para alguns, momentos interessantes de figuras da nossa terra na génese popular das estórias das aldeias, algumas comuns, outras apenas com protagonistas diferentes mas que centenas de Avôs provavelmente contaram aos netos aquando duma visita ou no dia a dia de convívio familiar.

E porque me é muito querida e muito viva a sua Amizade, Amor e Carinho, recordo hoje José da Costa Gaitas Júnior, nascido a 11 de Novembro de 1885 e falecido a 25 de Julho de 1974! E que fez o favor de ser o senhor meu Avô,  Zé Gaitas.

Comerciante e pequeno lavrador, homem de tempera rija e exímio jogador do pau, tinha para grande irritação da senhora minha Avó (Sofia da Piedade Inácio da Costa (29 Set 1903 /12 Abr 1984) vários amores escondidos atrás dos balcões das tascas das redondezas e que davam pelo nome de tinto ou branco, tanto faz desde que não entornes....

Possuidor na época de um macho de origem austríaca, com mãos grandes como diziam na terra, atrelado a uma carroça, saía de manhã com produtos hortícolas frescos para a ronda habitual a que chamava “a venda”. Esse companheiro do seu dia a dia viria a ser conhecido pelo “Macho do Zé Gaitas” e que tinha para além da particularidade das mãos, uma outra que era a de parar sempre à porta de todas as tabernas, mesmo não precisando para o fazer de qualquer “ordem” ou sinal do meu  Avô!!!

Claro que mais copo menos copo, mais zaragata menos zaragata, o bom do nosso Avô lá chegava a casa sem dinheiro! E enquanto, depois de mais uma ronda, desemparelhava o seu fiel amigo, a senhora minha Avó, altiva e danada lá lhe perguntava:

-  José!!!

- Sim, Sofia....diga!

- O dinheiro da venda? É preciso pagar ao pessoal...

Coçando a cabeça com uma mão e o boné ou o chapéu na outra, o meu Avô retorquiu:

- Não há.....

- Não há???? Então os produtos que levou para vender?

- Pois, não há! É que todos me chamam Tio e à Família a gente não leva dinheiro, não é??!!!







Quando socialmente ou em termos de jornas as coisas não corriam bem na Aldeia, o Avô José costumava levantar a sua voz embargada pela emoção e encharcada pelo tinto, dizendo quadras um pouco avançadas e que requeriam alguma coragem, gozando e cerzindo nos seus conterrâneos mais abastados! De entre outras, uma que a Aldeia ainda recorda e que nos dá um grato prazer de a ouvir quando  percorro as ruas do Pombalinho é a seguinte: “Há quem come e não produz, há quem produz e não come! Há quem arrebenta a comer e há quem morre de fome!”

O álcool e este sentido de justiça social levou-o muitas vezes ao Governo Civil onde o senhor meu Pai o ia buscar depois de uma ou outra alteraçãozita que começava  à paulada e terminava ali.

Militar do corpo reservista, serviu em Artilharia de Costa onde aguardou embarque para a França, o que não veio a acontecer.

Outro episódio passou-se à porta dum cemitério com alguém que disputara com ele umas leiras de terra e se haviam desavindo. Aquando da sua morte barrou a entrada do féretro dizendo : “Aqui jaz a terra da igualdade, tanta soberba, vá pro chão, querias tanta terra e agora vais para o jazigo ??? Chão e terra para cima!” Acabou uma vez mais numa visita ao seu primo na Governo Civil.!!

Era assim o senhor meu Avô, o Zé Gaitas, que Deus o tenha em sua 
companhia.



        Textos da autoria de Victor Borges da Costa 





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